Mordidas na Primeira Infância

As crianças nos primeiros anos de vida estão aprendendo sobre o ambiente e sobre si mesmas de forma sensorial e motora, assim suas conquistas se dão através da percepção e dos movimentos. Não há consciência do eu, o que existe é a experiência adquirida com a ação; não há reflexão antes de agir! As principais características de 0 a dois anos de idade são: a exploração manual e visual dos objetos, a imitação como forma de aprendizagem, a inteligência expressa através das ações (agarrar, sugar, atirar, bater, chutar e morder), a ocorrência de ações antes do pensamento, a centralização do próprio corpo e o desenvolvimento gradativo da capacidade de permanência do objeto (lidando com a separação dos pais, por exemplo).

A partir do segundo ano de vida, a linguagem começa a se estabelecer e as crianças, aos poucos, dão conta de representar seus pensamentos, passam a se expressar com mais clareza, ampliando sua rede de interação social e aprimorando a habilidade de comunicação com seus pares. Por isso, é esperado que neste período as mordidas diminuam, dado que são capazes de usar da fala para expressar seu desconforto e se livrar dos incômodos.

Diante da ideia de que uma criança, nos primeiros anos de vida, experimenta o mundo por meio de seu corpo e suas sensações, percebe-se que ela está testando seu poder sobre o ambiente: de provocar gritos, receber atenção, conquistar aquele brinquedo, se livrar do que atrapalha!

A mordida é uma expressão de agressividade, mas geralmente não deve ser entendida como um ato de maldade, já que a criança, por meio do uso da força, tenta impor sua vontade e ser atendida em seu desejo. Quando não consegue ser ouvida e satisfeita, por ainda não dominar as palavras, o seu corpo age! Não se trata de uma atitude consciente e planejada, mas de uma representação corporal de “Não aguento mais!” “Eu existo!” “Quero o meu lugar.” Por isso, na maioria das situações, se torna inútil gritar “larga” ou “para”, afinal crianças pequenas não sabem largar o objeto de forma involuntária. É mais interessante ajudá-las, abrir sua mão para soltar o cabelo do outro, tirar de perto e mostrar o que aconteceu.

É preciso então, entender a mordida como um comunicado sobre o que se sente, compreender a função deste comportamento e instrumentalizar a criança para que ela seja capaz de se expressar de maneira adequada.

Possibilidades de intervenção na hora da mordida:

• Ter uma conversa tranquila e direta sobre o que aconteceu, colocando em palavras o comportamento, o sentimento e as consequências: “Você queria muito o brinquedo, mas seu amigo o pegou antes. Você ficou com raiva e mordeu o braço dele, isso não deve acontecer, pois machuca. Agora ele está chorando e sentindo dor. Fique aqui para se acalmar e eu vou devolver o brinquedo para ele!”

• Observar os momentos em que ocorre e sua função, para criar possibilidades de expressão;

• Fazer combinados e insistir nos limites;

• Oferecer outras fontes de alívio para os momentos de irritação e angústia (músicas, brincadeiras, apertar algo. Direcionar para atitudes mais adaptadas e que respeite o limite do outro).

Assim como existem decisões que auxiliam na solução do comportamento agressivo das crianças, há aqueles que prejudicam, criando um ambiente instável e pouco acolhedor. São atitudes que devem ser evitadas:

• Dar bronca ou gritar com a criança fazendo com que ela se sinta exposta e fique ainda mais nervosa;

• Deixar a criança com o brinquedo ou vantagem que conseguiu de forma inadequada (com a mordida, por exemplo);

• Incentivar a outra criança a revidar.

 

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