Limites e afeto

Os pedidos de uma pessoa são formas de criar vínculo, de demonstrar que se quer o outro, que o deseja. Ao pedir que uma criança faça ou deixe de fazer algo, passamos a mensagem de que ela existe e que é desejada, pois é assim que a informamos de sua importância e que está sendo cuidada.

Estabelecer limites implica em dizer não, impedindo o prazer que é julgado pelo adulto como exagerado ou impróprio para a idade ou momento. Dizer não é limitar este prazer da criança, o que traz culpa para o adulto, sendo ele o responsável pela frustração e pelo ‘sofrimento’ da criança. Assim, a compreensão de limite deve ser aprofundada, sendo vista além da consequência instantânea do não que é dito; o choro, a raiva, a tristeza. Devemos pensar o conceito de limites enquanto expressão do desejo pelo outro; se eu impeço um comportamento inadequado de uma criança, eu a frustro ao mesmo tempo em que a ajudo a crescer e lidar com suas emoções. Eu demonstro o desejo de cuidar, já que ela, enquanto criança, não é capaz de fazê-lo sozinha.

A autoestima é um sentimento que se forma quando a criança, sentindo-se desejada e cuidada, passa ela mesma a desejar ficar bem e se cuidar.

 

 

O medo e a raiva são sempre sinais de saúde, de vida. Eles informam que o organismo está se protegendo, expressando um desconforto. Se uma criança não reclama ou não se incomoda com os nãos que recebe, e sempre obedece, percebemos que não há desconforto; assim ela fica indiferente e adoece. Ao dizer que a criança deve aceitar os limites sem desconforto, ensina-se que a raiva que ela sente por ter sido frustrada não é aceita. Então, o resultado desta equação é uma criança que não é vista e não consegue se reconhecer, tornando-se cada vez menos saudável.

As crianças precisam reagir aos limites com incômodo e, os cuidados dos adultos, de forma habilidosa e afetiva, as ensinarão a lidar com esse desconforto. Este é único caminho para o crescimento. Evitar que o desconforto apareça não é cuidar, é se isentar de culpa e trabalho, pois assim, criamos uma realidade fantasiosa e ensinamos para as crianças que não existe desprazer ou incômodo. Sempre sentiremos este desconforto, do nascimento até a velhice. O modo de lidar com a raiva diante disso é o que aprendemos ao longo do processo de desenvolvimento. Não é algo que aprendemos de um dia para o outro, tampouco algo que deixamos de sentir. Não controlamos nossos sentimentos, tentamos primeiro controlar o comportamento.

 

 

É preciso suportar as frustrações e isso se aplica tanto para as crianças que têm seu prazer impedido, quanto para os adultos, que precisam lidar com a culpa de causar desconforto à criança. Cabe ao adulto ensinar à criança a substituir a sensação agradável anterior por outra coisa mais adequada e, talvez, não tão prazerosa. Quando uma criança  sente raiva e vê a mãe, o pai ou o cuidador suportar isso, ela não se sente uma pessoa má. Ela percebe que pode sentir raiva, mas consegue se controlar e não ser julgada por isso.

O limite está relacionado ao desejo do adulto e não à vontade da criança. Limite não se explica, é uma ação. Assim, falar sobre o porquê das regras colocadas deve ser feito na interação com as crianças e não durante a imposição do limite, podendo ser discutido e explicado em brincadeiras e histórias. Este movimento se diferencia do autoritarismo que impede que a criança aja do seu jeito, pois colocar limites de acordo com o desejo do adulto se refere a organizar o ambiente para a criança e ensiná-la a lidar com suas emoções e frustrações. Quando colocamos limites, a criança pode reagir dizendo que não gostou e precisamos autorizar esta raiva e descontentamento. Deste modo, ensinamos sobre como lidar e expressar tais sentimentos, pois se a criança é contida pelo adulto em seu impulso de raiva, por exemplo, ela consegue reconhecer o afeto e o desejo desse adulto por ela, permitindo assim que a autoestima se desenvolva.

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